domingo, 26 de fevereiro de 2012

Le Cordon Bleu - Quarta Semana!

Se existe uma palavra que pode mudar sua vida na cozinha, essa palavra é “planejamento”. Durante este quase 1 mês de curso (nossa, como passa rápido!), todos os meus dias ruins foram por falta de planejamento. E os dias bons? Sim, isso mesmo, porque foram bem planejados.

Esta semana eu fui do inferno ao paraíso em 24 horas. Inacreditável. E o culpado disso? Sim, o planejamento. Isso porque semana passada, não sei se vocês lembram, deu tudo meio que certo. O molho da carne de segunda ficou ralo, mas tudo bem. Na terça, a apresentação estava ruim, mas tudo bem também. Na quarta, eu achei que não fosse dar tempo, e sobrou tempo!

Daí como eu comecei essa semana? Achando que eu já era chef. Metida, convencida, e toda toda. Nem estudei direito as receitas. Cheguei segunda-feira na aula de demonstração achando tudo muito fácil. “Um prato apenas? Vou tirar de letra...”. O prato era peito de frango recheado com molho de cogumelos e cebolas, ou o chique “Suprême de Volaille Chivry”.

 Preparado pelo Chef John

Anotei o passo a passo direitinho. A receita? Cheia de detalhes. Aliás, culinária francesa é isso. Se dá para complicar, por que não? E se dá para complicar com muita manteiga e creme, aí os franceses tem um orgasmo culinário! Pois o simples peito de frango recheado levava nada mais nada menos que 3 tipos de manteiga! E claro, creme, não pode faltar nunca.

Basicamente o que temos que fazer é limpar o peito de frango, fazer uma espécie bolso para colocar o recheio, e cortar as beiradas para deixá-lo num formato “agradável” aos olhos. Com as sobrinhas de frango (sem gordura) a gente faz o recheio (pois é, frango recheado com frango, não entendi o propósito, mas ok) juntando creme e pistaches fatiados. O problema disso tudo é que o recheio tem que ficar na consistência de mousseline (ok, você não sabe, eu explico: mousseline é um meio termo entre purê e creme, entendeu?). E para conseguirmos isso, temos que bater os restos de frango no liquidificador, e depois passar numa peneira.

Então lá fui eu, alegre e sorridente, esquartejar o meu franguinho, quando dei de cara com Chef Iris, que muito simpática se ofereceu para me ajudar! Olha que lindo! É claro que eu aceitei! Só que ela pegou meu frango, colocou no liquidificador, ligou, deixou 3 míseros segundos, e me devolveu: “It’s done. Agora é só peneirar”. E eu pensei... “ai caraca, isso não vai dar certo, era para ter batido mais... mas é a chef, o que eu posso fazer?”. Então com muita coragem peguei a peneira e comecei... e apertei, apertei mais, apertei com todas as minhas forças, e a porcaria do frango não passava pela peneira. Perdi a noção da hora, não tenho a menor idéia de quanto tempo fiquei brigando com o frango. Mas foi muito, muito tempo. E aí, se eu tivesse me planejado melhor, eu teria conseguido contornar a situação e recuperar o tempo perdido. O que aconteceu? Me desesperei, não sabia mais o que tinha que fazer, não sabia mais que manteiga colocar, quanto de creme acrescentar, o que tem que temperar, o que não tem... E quando isso acontece, a gente perde um precioso tempo olhando as anotações e tentando se achar. Resultado: fui a última da cozinha a entregar o prato, com ridículos 50 minutos de atraso. Isso mesmo, 50!!!!!! O frango ficou muito bom, mas eu tive que escutar da chef um “O que houve contigo hoje Ana?” que entrou como uma faca no meu ouvido. Fui para casa arrasada. Não sou uma pessoa competitiva, nem me acho mais do que ninguém. Mas a única vez que eu me lembrava de ter sido a última em qualquer coisa foi quando eu estava na segunda-série, e tirei a menor nota de ortografia da sala, porque resolvi colocar acento em todas as palavras. Eu tinha uns 9 anos. Enfim. Lição aprendida. Como diz minha mãe: “Errar uma vez é humano. Duas vezes é burrice”. E como eu me recuso a ser burra, prometi para mim mesma que o erro não seria repetido.

Preparado por mim.

No dia seguinte, o menu era sopa de abóbora e consommé de carne.

 Sopa de abóbora, preparada pelo Chef John.

 Consommé de carne, preparado pelo Chef John

De novo, parecia fácil. Mas não me deixei enganar dessa vez. Ao contrário do dia anterior, me planejei o máximo que pude. Li a receita umas 10 vezes. Li o passo a passo mais umas 20. Tentei passar na minha cabeça todos os momentos, desde a separação dos utensílios e dos ingredientes até a preparação do prato para apresentação ao chef. Entrei na cozinha sem olhar para os lados. Não tive que pensar um segundo no que fazer, já estava tudo no automático. Eu estava tão concentrada que nem percebi o quanto que eu estava adiantada. Até que, quando fui tirar a abóbora do forno, Gustavo, um amigo brasileiro me disse: “rapidinha hein!!!”. Daí que fui olhar para os lados. E pasmem! Ninguém estava tão adiantado quanto eu. Olhei para o relógio, fiz umas contas rápidas e pensei: “Caramba, vou servir 15 minutos antes que o limite!”. Então continuei no mesmo ritmo, e muito, muito orgulhosa de mim mesma, fui a primeira da cozinha a apresentar a sopa para Chef Josef. O melhor de tudo? A sopa estava perfeita! Então chef Josef me disse: “Well done Ana. Agora vá lá e me prepare um belo consommé!”.

(aqui eu deveria colocar a foto da minha sopa de abóbora. Mas como eu sempre tenho que esquecer algo, acabei de me dar conta que, na euforia de apresentar o prato mais cedo, esqueci completamente da foto... aff!!!)

O consommé já estava no fogo, reduzindo e ganhando cor e sabor. E o truque é que quanto mais ele fica no fogo, mais sabor e cor ele ganha. Então, sem muito o que fazer, comecei a ajudar os outros. E pela primeira vez em todo o curso, consegui ajudar Eden (se lembra dele, o mais rápido da cozinha, que sempre termina mais cedo e ajuda todos?). Falei: “Eden, finalmente, vou conseguir retribuir um pouquinho do que você faz pela gente sempre!”. E enquanto eu lavava a louça, pensava: “como é possível, isso! Um dia, sou a última, outro dia sou a primeira! Inacreditável...”.

A gente tinha que servir o consommé às 17:15h. Então as 17:00h eu coloquei meus legumes julliene no forno, aqueci um pouquinho, apaguei o fogo do consommé, servi o prato e apresentei ao chefe. O consommé não ficou perfeito porque poderia ter ganhado mais cor. Mas o sabor estava ótimo, o caldo estava bem transparente, e não havia sinais de gordura. “Well done again Ana!”. “Thanks chef!”.

Consommé preparado por mim

Fui para casa tão feliz! Leve, confiante, renovada! Até consegui ter forças para ainda correr 6 km! Depois de ficar 3 horas e meia em pé cozinhando, não é fácil! Mas aí quando fui me preparar para a aula do dia seguinte, surpresinha: Foie de veau sauté au lard, ou melhor dizendo, fígado. Arghhhh!!! Detesto! Tenho trauma de criança. Era obrigada a comer porque faz bem para a saúde. Mas não tem nada mais disgusting que fígado! Fico toda arrepiada só de pensar... O que salvou o dia foi que além do fígado, também fizemos de sobremesa Bavarois à la vanille com Raspberry coulis e chantilly. Uma delícia!

 Preparado pela Chef Elke

Vou me limitar a dizer que sim, meu fígado ficou bom, segundo chef Tristen. Mas foi no escuro, porque não cheguei nem a provar (arghhhh de novo!). Tudo terminado, sem a menor expectativa de levar o fígado para casa (arghhhh quantas vezes for necessário!), comecei a oferecer a todos meu fígado (a carne, não o órgão, só para esclarecer). Ninguém quis. Então ofereci para os funcionários da limpeza. Ninguém quis! Só me restou jogar no lixo, o qual para minha surpresa já estava abarrotado com o fígado de todos os outros alunos! Um pecado! Mas sinceramente, quem é que gosta de fígado? E porque eu estou aprendendo isso no básico? Vai saber!

Fígado (arghhhh!) preparado por mim. Estava arrumadinho, 
mas eu esqueci de tirar a foto antes do chef provar... 

O Bavarois ficou muito bom também, mas o coulis deveria ter consistência de coulis (mais líquido), e não de geléia (como vocês podem ver, cozinhou demais e virou uma deliciosa geléia. Eu gostei assim! Mas está errado... rs).

Bavarois preparado por mim. 

Semana que vem, temos peixe na segunda, na terça e na quarta! Vou começar a tentar postar aqui as receitas. Não prometo, não sei se vou ter tempo, mas acho que vai ser bacana para vocês, afinal, é Le Cordon Bleu, né minha gente? J






2 comentários:

  1. q issuuuuuuu! Adoro figado! Como vc teve a coragem de jogar um figado a moda francesa na lata do lixo?! hauhau To com saudades mana... Continue postando. Bjao!

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  2. Manooooooooo como assim vc adora fígado??? Nem vem, vc tem o mesmo trauma que eu! hahahahahha Tb estou com saudade! Que feliz, vcs estao realmente lendo meu blog!!! hahahahahah Bjocas!!!!!!!!!!

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