domingo, 4 de novembro de 2012

Cozinheira

Eu poderia dizer que estou sem tempo, mas seria mentira. Sim, tempo é a gente que faz. Temos tempo para aquilo que priorizamos, para o que é imprescindível e para o que nos faz feliz. E antes que você pense que escrever aqui não me agrada, eu já digo: amo escrever, e sim, me faz falta compartilhar neste blog minhas aventuras. O problema é que com tanto acontecendo, o tempo foi sendo alocado para outras coisas que me fazem feliz também, e o blog acabou um pouco esquecidinho. E dessa vez não vou prometer escrever uma vez por semana, escrever sobre isso ou aquilo, escrever sempre que tenho tempo (essa desculpa não cola mais!)... Vou escrever quando eu achar que devo, por prazer, porque me faz feliz. Acho que é uma boa resolução, pelo menos para mim :)

Mas o que anda de bom acontecendo Carol? (Ou Ana, como me chamam aqui... enfim, tenho dois nomes, use o que preferir). Em primeiro lugar, e pela primeira vez na história desse país chamado EU, estou amando aquilo que os outros chamam de profissão, mas que para mim é a mais pura diversão. Virei cozinheira, visto jaqueta e chapeu de chef todos os dias, meu sapato é preto e de borracha, meus dedos estão todos cortados e queimados e minha barriga esquenta todos os dias no fogão. Sim, cozinheira. Entro no trabalho 1 da tarde, chego pelo menos meia hora antes todos os dias, visto meu uniforme, bato ponto, coloco o avental, penduro dois panos de prato na cintura, organizo minha bancada de trabalho, estudo o que tenho que preparar para o serviço. Sim, cozinheira. Janto as 5, enlouqueço as 8, limpo tudo as 11, chego em casa meia noite, vou dormir 1 da manha. 5 dias na semana. São pelo menos 10 horas seguidas em pé, sem parar, sem espirrar, sem ir ao banheiro, sem frescurite de mulher, sem ter o direito da coluna doer, da tendinite piorar, da cabeça se desviar em outros assuntos. Sim, cozinheira. E não consigo me imaginar fazendo nenhuma outra coisa a não ser isso.

Isso tudo é tão surreal que às vezes, quando o restaurante está mais calmo, me "acho" no meio da cozinha, no meio de outros tantos iguais a mim, gente da Indonésia, da Tailândia, da Korea (não podia faltar!), da Inglaterra, da Itália, da Austrália (pasmem!), gente que escolheu cozinhar como profissão porque ama preparar e servir comida. Me vejo no meio disso tudo e a vontade é de me beliscar para ver se não é sonho.  Penso que há um ano, só um ano atrás eu não poderia, de forma alguma, prever nem um décimo do que está acontecendo. E muitas vezes me bate um medo inexplicável que vem lá de dentro e me apavora. Medo do desconhecido, de tudo que ainda está por vir, do que ainda não consigo prever mas que hoje sei que é possível, tudo é possível.

Muito ainda vai acontecer, eu sei. Mas não aguento de ansiedade. Quero mais, cada vez mais. Quer ler, quero aprender, quero assistir, quero conhecer, quero experimentar, quero. E quanto mais quero, mais eu amo, mais eu desejo, mais eu anseio por essa vida que me esperou 28 anos.

Enfim, para finalizar pois o sono finalmente está batendo, sei que o blog era para contar sobre minha viagem pela Austrália (cangurus) e Ásia (budas), e agora o nome ficou meio sem propósito. Mas vou manter. E quem disse que o nome tem que fazer sentido? Fez sentido quando criei, vai ficar do jeito que está. E como quase tudo na minha vida, quem sabe não fará sentido no futuro? Veremos :)